Mais uma vez o meu amigo João Teixeira me enviou uma crónica deliciosa, cujo humor, brandamente corrosivo, nos deixa pensativos e ao mesmo tempo com vontade de dar uma sonora gargalhada. Apetece também dizer: acertou na mouche.
CALIMERO VOLTA A ATACAR Este mês de Maio começa mal. Nada que espante se tivermos em conta o que a gente andou para cá chegar. Logo no primeiro dia do mês, quando deveríamos comemorar de forma combativa, séria, solene e empenhada o Dia dos Trabalhadores, apareceu aquela nova oportunidade do candidato socialista às europeias com ganas de participar na manifestação da CGTP, chamando para si as atenções. E a primeira pergunta é: como é que um homem destes se presta a mais um frete socialista? Eu respondo: o homem é um prestidigitador; transforma “sins” em “nãos” há uma data de anos, e este foi mais um sim ao que tem negado, a troco duma carolada com aproveitamento político. Dúvidas? Então não está à vista quando imediatamente – parecia até que os comunicados já estavam feitos de véspera, deus me perdoe – as baterias do Largo do Rato abriram fogo contra o seu inimigo principal?O país vai bem e, se mal existe, vem de fora, o povo é ordeiro quando se manifesta pela UGT, o PS não fez a fita, abusivamente, aos meninos de Castelo de Vide, para o respectivo tempo de antena (e até já disse: ai, desculpem lá e tal, foi sem querer…) os manifestantes da Intersindical são uns desordeiros e o Primeiro de Maio nunca existiu… Está bem assim?É claro que é uma acção provocatória, calculada e de encomenda, mas é um clássico também.Porém, as respostas que ouvi à manobra de diversão foram politicamente correctas, assertivas, mas eu não tenho que ser tal e por isso declaro que repudio estes calimeros da baixa política. É pena a campanha para as europeias não chegar a Setembro, se não eu mesmo daria umas dicas para as próximas intervenções do candidato, como por exemplo solicitar para intervir na Festa do Avante para que, inconsolado com a negativa, pudesse argumentar sobre a intolerância do PCP. Fica para as autárquicas, quem sabe se não arranja um punhado desta qualidade vassala, disposto a chorar depois, ao estilo de aquele menino bateu-me…Mesmo assim – porque a procissão ainda agora vai no adro – ainda posso suspeitar doutros contornos: quem me diz que afinal o arruaceiro comunista não passa de um distraído bloquista, um social-democrata confuso, um centrista que atravessava a rua fora da passadeira ou um socialista descontente. Por estes quem pedirá desculpas?O efeito calimero com o qual o primeiro-ministro contaminou os seus pares (e os ímpares também) é, no entanto, a chave para a resolução do problema. Afinal de contas, sobre quem recai a primeira suspeita na investigação dum crime? Qual é a primeira pergunta que o investigador formula? Naturalmente: a quem aproveita a situação. E parece que não é difícil a resposta…Vá, chorem, queixem-se, digam que o mundo se abateu sobre as vossas cabeças; que é tudo uma malandragem a tentar tramar-vos; que, se o povo estiver do lado dos coitadinhos, isso dá votos. A questão é que vamos estando fartos de choramingueiros baratos e não ficaria admirado de vos ver de baba e ranho após os escrutínios de 7 de Junho e os que lhes seguem, culpando o povo português de ingratidão, exigindo-lhe um imediato e inequívoco pedido de desculpas.João de Sousa Teixeirateijoao@gmail.com