03/12/2009

Passados mais de 100 anos a pouca vergonha é a mesma!


Uma amiga mandou-me há alguns dias o texto que vou apresentar a seguir.

Penso que os leitores devem lê-lo e meditar no que diz e o que representa, passados mais de 100 anos.

Penso valer a pena que as pessoas tomem conhecimento dele para que possam ajuizar daquilo que somos e que temos sido como povo.



Guerra Junqueiro (1850-1923)





"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,

fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora,

aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias,

sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice,

pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;

um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;

um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,

e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que

um lampejo misterioso da alma nacional,

reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.


Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,

não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha,

sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima,

descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas,

capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação,

da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.


Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;

este criado de quarto do moderador; e este, finalmente,

tornado absoluto pela abdicação unânime do País.


A justiça ao arbítrio da Política,

torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.


Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,

incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos,

iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero,

e não se malgando e fundindo, apesar disso,

pela razão que alguém deu no parlamento,

de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, 1896.

4 comentários:

Lídia Borges disse...

Nada a fazer, quando são os próprios filhos de um país a resignarem-se com a sua "sina".

L.B.

João de Sousa Teixeira disse...

E diz mais, nostálgico e cansado, já "Vencido da Vida":

Ai, há quantos anos que eu parti chorando
Deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?...há trinta? Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
Canta-me cantigas para eu me lembrar!...

Dei a volta ao mundo, dei a volta à Vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh! a ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida,
Canta-me cantigas de me adormentar!...

Trago d'amargura o coração desfeito...
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...
Minha velha ama que me deste o peito,
Canta-me cantigas para me embalar!...

Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
Pedrarias d'astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!

Como antigamente, no regaço amado,
(Venho morto, morto!...) deixa-me deitar!
Ai, o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...

Canta-me cantigas, manso, muito manso...
Tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
Que a minh'alma durma, tenha paz, descanso,
Quando a Morte, em breve, ma vier buscar!...

Abraço
João

CDU disse...

A CDU, tendo verificado que o prédio na Rua J:A:Morão (antiga Garagem dos Limas) foi demolida sem que estivessem afixados as razões da demolição, de eventuais obras ou de qualquer projecto para o local, violando os preceitos legalmente exigidos enviou, através do deputado municipal João Delgado, um requerimento ao presidente da Assembleia Municipal, solicitando que sejam facultados os esclarecimento que levaram a tal procedimentos e também que, na eventualidade de haver qualquer projecto para o local, lhe seja facultado o mesmo. Chamou, ainda, a atenção para as condições ilegais em que a demolição ocorreu já que, não respeitaram as normas de segurança e ambientais em vigor, não colocando os devidos resguardos que evitassem ou atenuassem os perigos resultantes da queda de entulho ou de poeiras produzidas, pondo em perigo a integridade fisica e a saúde dos transeuntes, moradores e empresários dos estabelecimentos.Chamou também a atenção para ausência sinais ou cuidados de qualquer levantamento ou pesquisa de tipo arqueológico numa zona que devia merecer esses cuidados.

Anónimo disse...

passeioverde.blogspot.com