07/08/2009

AO BORRACHO E AO MENINO

O meu amigo João Teixeira mais uma vez me enviou uma crónica deliciosa, com aquele humor certeiro e corrosivo. Esta crónica trata de um assunto que foi notícia dos jornais há alguns dias. No entanto, é plena de oportunidade, pelo assunto de que trata. Aqui a deixo para que possam apreciá-la, pois este blogue também se faz da língua portuguesa bem escrita e de qualidade.


"Talvez fosse mais aconselhável não falar
disto. O Necas diz-me que quanto mais se mexe na porcaria mais mal cheira. Mas não falar também me dá voltas à barriga… e pelo menos desabafo. Acontece que o tal Alberto acordou há dias com a vasilha ainda em fermentação e lembrou-se de bolsar a peregrina ideia de ilegalizar os comunistas. Constitucionalmente, legalmente, como manda o Estado de Direito e fica composto o ramalhete. Alberto João Jardim faz o que quer. Arrogante e pesporrente, criou na Madeira um clima de medo e de favorecimento de clientelas ao melhor estilo caciqueiro. O Estado é tolerante: tem fechado os olhos às suas diatribes, aos seus humores e às suas vontades, como se existissem energúmenos bons e energúmenos maus. Alberto João Jardim insulta quem muito bem lhe apetece, promove a calúnia e instiga o separatismo (ele e os que o acompanham) com assobios para o lado. Ameaça e faz chantagem com o dinheiro dos impostos de todos nós, contados ao milímetro para os restantes cidadãos, com impunidade e a conivência do Estado. Alberto João Jardim faz birras com as leis da República quando lhe convém, porque não, com argumentos porque sim, e o Estado remata para canto, dizendo que o assunto se resolverá. Alberto João Jardim faz de palhaço-estadista, faz de estadista-alcoólico, como se o Estado fosse um circo ou uma taberna. Sintomaticamente, o silêncio fez-se no seu partido em cujos figurões pensam a mesmíssima coisa. Dizem-no em privado, como é timbre de gente de públiicas virtudes e vícios privados. Riem baixinho de óbvio assentimento e até dizem em jeito de bonomia estulta: “este Jardim é o máximo!” Eis se não quando, o Necas me chegou com a notícia de que um tal Coutinho, colunista, arauto d’”Voz da Razão” no diário das grandes parangonas, dizendo concordar com o sr. dr., que sim senhor, que totalitarismos não sei quê, que se o fascismo é proibido, logo o comunismo, que é parente, também se mete no mesmo saco. Mas onde é que esta gente estava no 25 de Abril? Este, como é óbvio, saltando alegremente nos timtins do senhor seu pai. Pela fácies não parece que vá muito além do martini on the rocks. É das farinhas, só pode! Ou então é porque o homem é mesmo assim, pronto. E sendo assim, não há nada a fazer. No mínimo ganhará mais narizes de palhaço por esse google fora. O mal de tudo isto é que o assunto é sério. Começa-se normalmente assim, tipo bebedeira seca, tipo como quem não quer a coisa, e quando se dá conta já é tarde, porque os esbirros já vêm no primeiro andar do nosso prédio. Depois não há deus que ponha a mão por baixo."

João de Sousa Teixeira teijoao@gmail.com

4 comentários:

CS disse...

Perigoso é ver gente que se faz passar por honesta a assistir a tudo isto e assobiar para o lado. Depois... (Brecht)

Carlos Vale disse...

Bravo, João.
Reparei que não veio publicado. Será o que estou a pensar?
Para quem já não se importa, vou lembrar um poema de Brecht:

Primeiro levaram os comunistas.
mas Eu não me importei
porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários
Mas a Mim não me afectou
porque não era operário.

Depois prenderam os sindicalistas mas Eu não me incomodei
porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez
de alguns padres, mas como
não sou religioso,também não liguei

Agora levaram-me a Mim
e quando percebi,
já era tarde.

Lídia Borges disse...

Bem ao jeito de João Teixeira. Acutilante preciso e consiso!
Até eu fiquei mais aliviada, só de ler.

Cumprimentos

João de Sousa Teixeira disse...

Bom dia, Amigo do coração

Permite que responda aos teus comentadores.
Juro pelas alminhas que sabia que se o Carlos lesse isto, citaria imediatamente o célebre poema do Brecht! E tal complementa o comentário de "CS".
Quanto ao resto, sim, penso no mesmo problema "técnico" que o Carlos está a pensar...
Além do mais, um beijinho para a Lídia, que muito me agrada ver por aqui.
Para ti, um abração, claro!
João