O meu amigo João Teixeira mais uma vez me enviou uma crónica deliciosa, com aquele humor certeiro e corrosivo. Esta crónica trata de um assunto que foi notícia dos jornais há alguns dias. No entanto, é plena de oportunidade, pelo assunto de que trata. Aqui a deixo para que possam apreciá-la, pois este blogue também se faz da língua portuguesa bem escrita e de qualidade.
"Talvez fosse mais aconselhável não falar disto. O Necas diz-me que quanto mais se mexe na porcaria mais mal cheira. Mas não falar também me dá voltas à barriga… e pelo menos desabafo. Acontece que o tal Alberto acordou há dias com a vasilha ainda em fermentação e lembrou-se de bolsar a peregrina ideia de ilegalizar os comunistas. Constitucionalmente, legalmente, como manda o Estado de Direito e fica composto o ramalhete. Alberto João Jardim faz o que quer. Arrogante e pesporrente, criou na Madeira um clima de medo e de favorecimento de clientelas ao melhor estilo caciqueiro. O Estado é tolerante: tem fechado os olhos às suas diatribes, aos seus humores e às suas vontades, como se existissem energúmenos bons e energúmenos maus. Alberto João Jardim insulta quem muito bem lhe apetece, promove a calúnia e instiga o separatismo (ele e os que o acompanham) com assobios para o lado. Ameaça e faz chantagem com o dinheiro dos impostos de todos nós, contados ao milímetro para os restantes cidadãos, com impunidade e a conivência do Estado. Alberto João Jardim faz birras com as leis da República quando lhe convém, porque não, com argumentos porque sim, e o Estado remata para canto, dizendo que o assunto se resolverá. Alberto João Jardim faz de palhaço-estadista, faz de estadista-alcoólico, como se o Estado fosse um circo ou uma taberna. Sintomaticamente, o silêncio fez-se no seu partido em cujos figurões pensam a mesmíssima coisa. Dizem-no em privado, como é timbre de gente de públiicas virtudes e vícios privados. Riem baixinho de óbvio assentimento e até dizem em jeito de bonomia estulta: “este Jardim é o máximo!” Eis se não quando, o Necas me chegou com a notícia de que um tal Coutinho, colunista, arauto d’”Voz da Razão” no diário das grandes parangonas, dizendo concordar com o sr. dr., que sim senhor, que totalitarismos não sei quê, que se o fascismo é proibido, logo o comunismo, que é parente, também se mete no mesmo saco. Mas onde é que esta gente estava no 25 de Abril? Este, como é óbvio, saltando alegremente nos timtins do senhor seu pai. Pela fácies não parece que vá muito além do martini on the rocks. É das farinhas, só pode! Ou então é porque o homem é mesmo assim, pronto. E sendo assim, não há nada a fazer. No mínimo ganhará mais narizes de palhaço por esse google fora. O mal de tudo isto é que o assunto é sério. Começa-se normalmente assim, tipo bebedeira seca, tipo como quem não quer a coisa, e quando se dá conta já é tarde, porque os esbirros já vêm no primeiro andar do nosso prédio. Depois não há deus que ponha a mão por baixo."
João de Sousa Teixeira teijoao@gmail.com
4 comentários:
Perigoso é ver gente que se faz passar por honesta a assistir a tudo isto e assobiar para o lado. Depois... (Brecht)
Bravo, João.
Reparei que não veio publicado. Será o que estou a pensar?
Para quem já não se importa, vou lembrar um poema de Brecht:
Primeiro levaram os comunistas.
mas Eu não me importei
porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários
Mas a Mim não me afectou
porque não era operário.
Depois prenderam os sindicalistas mas Eu não me incomodei
porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
de alguns padres, mas como
não sou religioso,também não liguei
Agora levaram-me a Mim
e quando percebi,
já era tarde.
Bem ao jeito de João Teixeira. Acutilante preciso e consiso!
Até eu fiquei mais aliviada, só de ler.
Cumprimentos
Bom dia, Amigo do coração
Permite que responda aos teus comentadores.
Juro pelas alminhas que sabia que se o Carlos lesse isto, citaria imediatamente o célebre poema do Brecht! E tal complementa o comentário de "CS".
Quanto ao resto, sim, penso no mesmo problema "técnico" que o Carlos está a pensar...
Além do mais, um beijinho para a Lídia, que muito me agrada ver por aqui.
Para ti, um abração, claro!
João
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