03/10/2010

Só não vê quem não quer.

Já há algum tempo que ando arredado destas lides da blogo-esfera. Mais uma vez o meu amigo João Teixeira me enviou um texto (crónica) cheio de oportunidade e sentido de humor, tendo em atenção que se refere à farsa, embora ele lhe chame "saga", que os dois chefes de serviço dos partidos que há 34 anos andam a (des)governar este triste país. Ou seja, refere-se à farsa desempenhada por Sócrates/Coelho a propósito da situação política e OE para 2011.



BOLOS DE ARROZ

Nos idos da minha juventude, havia uma aposta curiosa que consistia na oferta de uma determinada quantia (nada de exageros…) a quem conseguisse comer um bolo de arroz em um minuto. Não sei se hoje ainda se fazem da mesma massa, mas garanto que era tarefa difícil e, regra geral, votada ao fracasso, mesmo para os companheiros, que todos tivemos um dia, que tudo sabiam e de tudo eram capazes.
Pior, houve quem, há um bom par de anos – figura grotesca da nata política, na área socialista – afirmasse que, aos dezoito anos, terá ficado espantado pelo facto de os bolos de arroz possuírem na base um círculo de papel vegetal. Não porque até então nunca tivesse degustado o famigerado bolo seco, com cinta também de papel e presença obrigatória em todas as pastelarias, bem pelo contrário, era dos seus preferidos. Mas o coitado nunca reparou no pormenor e, já agora esclareço, comia o papelinho circular da base, que muito bem lhe sabia e associava ao prazer do sabor do seu bolo predilecto.
Ou muito me engano ou tudo isto me ocorreu a propósito da saga Coelho/Sócrates, ou Dupond & Dupont… fingindo a discordância, simulando diferenças ou aparentando a zanga, quando na realidade o que pensam é porque é que eu não me lembrei desta. No fundo, são farinha do mesmo saco.
Estiveram a banhos. Ganharam uma cor mais sadia e agora que estão de regresso (sim, esta gente sai e entra, entra e sai) trazem novo fôlego para as velhas ideias, para passarem nova temporada a tentar convencer-nos que é desta que a coisa vai, que é agora que nos vão tirar a barriga de misérias, com estatísticas à carta, mais desemprego, mais inflação e festa, muita festa e fogo-de-vista para um copo de água que não foi servida ainda mas já está inquinada.
O mesmo não é dizer que a esta mesa ninguém se vai sentar. Como diz Alberto Cortez no seu poema el vino, … “y entonces, son bravucones, / hasta que el vino se acaba/ pues del matón al cobarde/ solo media la resaca.”
Um, anda numa corrida desenfreada, tentando demonstrar que o seu pastel é aquele que os portugueses mais apreciam, que é doce, que faz bem a tudo, que conforta o estômago e aquece a alma e, em suma, os tira da fome e da miséria. O que não diz é que temos apenas um minuto para o comer e jamais conseguiremos tal proeza.
O outro, no mesmo tom mas com a esperteza de quem já conhece o papel da base, e tem o paleio adequado para mentir ou desmentir q b, insiste que comamos, que é tudo comestível e… à saída logo se vê.
Em qualquer dos casos, pode dizer-se que falam de velhas receitas, cujos resultados são, em regra, amargos de boca. Mas têm razão num pormenor: ainda é com papas e bolos que se enganam os tolos.
Resta saber quando terá o povo a maturidade necessária para lhes dar, não o bolo, mas o arroz. A ambos.


João de Sousa Teixeira
teijoao@gmail.com

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