19/08/2010

O Verão e os Fogos

Mais uma vez o meu amigo João Teixeira me enviou um texto sobre os fogos de verão que se repetem de forma trágica, tornando o nosso país cada vez mais deserto, mas, que, infelizmente, as medidas que deviam ser tomadas para acabar com a flagelo são anunciadas de ano para ano, mas nunca concretizadas.
Deixo aqui o seu texto para que possam apreciá-lo na sua oportunidade e também na sua trágica ironia.


O ESPECTÁCULO DO FOGO

É tudo tão denunciado, tão tragicamente recorrente – isto dos fogos de verão em Portugal – que os telejornais poderiam duma vez por todas poupar a inteligência dos cidadãos, evitando reportagens de longa duração, com repórteres vestidos de véspera a interrogar sobre o óbvio quem lhes aparece à frente e que mais precisava de recato e ajuda do que responder a meia dúzia de perguntas pacóvias.
Pródigos na parvoíce têm sido igualmente os ministros da tutela ao longo dos tempos. O destaque vai para o coveiro da Reforma Agrária, que relativamente ao ordenamento da floresta fez zero. Outro houve, mais recente, que afirmou qualquer coisa como para o ano já não vai ser assim, como quem acaba de descobrir a pólvora, salvo seja. O actual, já falou “em termos homólogos” para produzir que, os fogos deste ano estão em níveis razoáveis porque correspondem a um quinto dos ocorridos em 2005 e um terço de 2003 (anos de desastre nacional no que aos incêndios florestais se refere…). Porém, há bastante mais área ardida que nos dois últimos anos!
Vale a pena citar Agostinho Lopes, membro do Comité Central do PCP, em conferência de imprensa no início do mês de Agosto:

(...)” como sempre alertámos, o cerne do problema era e é o estado da floresta e das matas portuguesas. Ora, as questões estruturais da floresta, o seu ordenamento e gestão activa, e a chamada prevenção estrutural, não passaram do papel! Se dúvidas há sobre esta afirmação, é fácil comprová-la. Basta fazer o balanço de concretização da “matriz de responsabilidades e indicadores de implementação da Estratégia Nacional para as Florestas (ENF)”! Estratégia, aprovada pelo Governo, em Resolução do Conselho de Ministros de 15 de Setembro de 2006, após os desastres de 2003 e 2005. Confluindo com políticas agro-rurais (e não só), que agravaram o abandono da agricultura e a desertificação humana e económica de muitas regiões, as políticas agro-florestais, pese as boas intenções afirmadas, patinaram, sem vencer estrangulamentos e défices causados pelas políticas dos últimos 30 anos. Nesse impasse, pesa como questão decisiva as consequências directas e indirectas da contenção orçamental, determinada pelo PEC. O forte e cego condicionamento financeiro, reduziu e estilhaçou os serviços do Estado para a Floresta (sistema de mobilidade especial, reconfiguração da Direcção Geral dos Recursos Florestais na Autoridade Florestal Nacional), atingiu drasticamente o investimento na floresta e o avanço no ordenamento florestal. Processo que acaba por frustrar a enorme disponibilidade, empenhamento e até entusiasmo de produtores e técnicos florestais, compartes dos baldios e o grande envolvimento das suas associações.”

O contrário é a delapidação do património florestal e pecuário e a garantia deste espectáculo de fogo anual, aproveitado para as audiências televisivas e uns quantos basbaques nos darem conta que continuam a ser isso mesmo: basbaques.

João de Sousa Teixeira

teijoao@gmail.com

1 comentário:

saitica disse...

As pessoas não comentam sobre incendios talvez por medo do fogo do inferno? Somos infernais e idiotas?
Não me faça duvidar
pois arde meus cabelos brancos
que iluminam o céu
a barba também branca
ilumina meus caminhos

daniel de andrade simões-Brasil, outro idiota do sec.XXI