19/04/2011

O PCP recusa reunir com a "troika" - FMI, BCE, UE

A declaração de Jerónimo de Sousa - a recusa da legitimação da intervenção



1. O PCP foi hoje contactado para um encontro com o grupo do FMI, União Europeia e BCE, executor de uma ilegítima intervenção externa em Portugal.

Arvorando-se já em mandantes do país, este contacto integra e insere-se no processo de ingerência, roubo e desastre dirigido contra o país que o PCP rejeita e combate. Um processo que, não resolvendo nenhum problema do país, constituirá um novo e mais grave factor de agravamento da exploração dos trabalhadores, de ampliação da injustiça e desigualdades sociais, de declínio económico e de dependência externa.

2. Perante este rumo desastroso e num momento crucial para o país, o PCP diz Não! a este caminho de afundamento e de comprometimento do futuro de Portugal. Há alternativa. O PCP diz Sim! a uma política patriótica e de esquerda, que no imediato impõe a renegociação da dívida externa (prazos, juros e montantes); a diversificação das fontes de financiamento; a acção convergente com outros países vítimas da especulação financeira e do Euro; a aposta na produção nacional (produzir mais para dever menos); a redução das importações, a par do aumento das exportações e a diversificação das relações comerciais.

3. Em coerência com esta posição, essencial à defesa dos interesses nacionais, o PCP rejeita o seu envolvimento num processo que constitui uma inaceitável atitude de abdicação e submissão nacional. Reafirmando a sua determinação de intervir a todos os níveis na defesa dos interesses do país e colocando a exigência de informação, a que institucional e politicamente tem direito, o PCP transmitiu já a sua recusa à reunião proposta.

4. Esta mesma posição foi expressa pelo PCP ao Primeiro-Ministro com inteira clareza, afirmando a sua frontal rejeição a uma intervenção externa, em si mesmo comprometedora do futuro da vida dos portugueses, do país e das suas perspectivas de desenvolvimento soberano.Rejeição que não anula a exigência e direito do PCP de ser informado pelo Governo português do conjunto de dados e elementos sobre a real situação financeira, económica e orçamental do país, os seus concretos compromissos e as disponibilidades e recursos próprios.

Informação que, para lá de qualquer dimensão negocial que em absoluto rejeitamos, constitui um direito inalienável e inquestionável que não pode nem deve ser comprometido pelo posicionamento por parte do PCP no sentido de se opor a um processo e a uma intervenção que só contribuirá para manietar o país, aprofundar a sua subordinação ao capital internacional e justificar mais exploração, injustiças e pobreza.
Informação que, mesmo no quadro das suas funções de gestão, só o Governo e as instituições nacionais vocacionadas para o efeito devem dar e não qualquer entidade estrangeira ou supranacional sem legitimidade.

5. Perante o contacto hoje recebido que contraria estes pressupostos de relacionamento, que o PCP não pode aceitar, reafirma-se a exigência da informação que é devida, hoje mesmo reiterada junto do Governo.

6. Perante esta intervenção externa e o que lhe está associado – roubo nos salários, cortes nas prestações sociais, redução das funções sociais do Estado, privatizações, apoios à banca e aos grupos económicos, recessão, alienação de importantes parcelas da soberania nacional – o PCP reafirma ao povo português que pode contar com a sua luta e intervenção para lhe fazer frente e a derrotar.

Perante esta afronta ao povo português, é preciso haver quem diga Não!. É essa atitude que o PCP assumirá.

2 comentários:

Carlos Vale disse...

35 anos de governação miserável de PS/PSD/CDS, agravados com a desastrada actuação do aventureiro Sócrates levaram o País à ruína.
A acção concertada das empresas de rating, todas norte-americanas, com a constante subida de juros no caso dos empréstimos a Portugal, levaram a cabo uma tarefa de acordo com interesses dos EUA e da banca internacional, perante a passividade da UE.
A banca e as empresas portuguesas, que têm uma dívida Externa maior que a do Estado português, foram coniventes com intervenção estrangeira e trataram dos seus interesses.
Cinco banqueiros marimbaram-se para os interesses de quase onze milhões de portugueses!!!
Que grande patriotas...
Perante isto,temos que castigar os culpados, correndo com PS/PSD/CDS da governação.
E, votar CDU.
Carlos Vale

Carlos Vale disse...

Podia estar, aqui, horas a citar opiniões de economistas da CDU, que anteciparam, há muitos anos, os cenários da crise e também do fracasso das opções do Governo. Por agora, vou apenas citar a primeira que me veio à mão.
Octávio Teixeira em 14/Maio/2010, disse no "Público" com o título
"Um caminho para a recessão":
"O "pacote de austeridade" anunciado pelo Governo, e com o qual o PSD se co-responsabilizou, é drástico do ponto de vista social e é contraproducente na prespectiva económica. (...)
Assim sendo, o mais provável, ou inevitável, é a partir do segundo simestre do ano se assista a uma desaceleração forte do crescimento e, provavelmente, à reentrada na recessão. (...)
As opções podiam e deveriam ter sido outras: por exemplo alargar a tributação das mais valias às SGPS e Fundos de Investimento, suspender os benefícios fiscais e IRC, aumentar a tributação dos dividendos e outros rendimentos de capital para 25 ou 30%, etc. O problema é o dos interesses que se defendem..."
O que aconteceu? Quem tinha razão?
Carlos Vale