28/02/2011

O Barrocal

O meu amigo João Teixeira deixou no post das fotografias do Barrocal o comentário que se segue e que eu não resisto a publicar, mesmo sem a sua autorização, porque a sua descrição era a que eu gostaria de ter escrito, mas não fui capaz.


Desvendo um extracto dum próximo romance, com o título genérico SÚBITA FLORESTA:


No princípio, o barrocal exercia o mistério possível. Simultaneamente misterioso e inóspito, sem ser uma coisa ou outra, chamava a atenção pelo isolamento que permitia conceber todos os sonhos e todas as aventuras; tudo o que se imaginasse furtivo ou proibido.
Ali, todos podiam ser índios, bandoleiros ou apenas gente adulta, como a que passava, senhora do seu nariz, do lado de lá da linha do caminho-de-ferro.
A paisagem era quase deserta, não fossem os enormes rochedos graníticos de formas arredondadas e uma espécie de carvalhos, cujos frutos eram bugalhas secas, que serviam para jogar o berlinde dos pobres, fazer efémeros cachimbos e arremessar contra alvos de ocasião.
Não se sabe que atractivo levava aquela gente miúda a saltitar de pedra em pedra – o que constituía já, por si só, algum arremedo de pecado em cada cabeça povoada de sonhos e mistérios insondáveis – a não ser o exercício de uma rude liberdade.
Nunca se saberia, nem tal era importante. Na verdade, o barrocal não era um mundo; muito mais do que isso, era vários mundos, visto que cada um transportava o seu e nele dimensionava as suas vontades e a sua sede de viver os pequenos momentos de descoberta, guardados a sete chaves, pois nunca eram revelados para além daquele lugar de encanto.

Abraço

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