27/10/2008

Poesia que nos toca

Voltamos hoje a apresentar mais dois poemas de Eugénio de Andrade, cuja poesia temos vindo a ler e a reler.
Os poemas (dois) fazem parte do livro "Rente ao Dizer".

LÍNGUA DOS VERSOS

Língua;
língua da fala;
língua recebida lábio
a lábio; beijo
ou sílaba;
clara, leve, limpa;
língua
da água, da terra, da cal;
materna casa da alegria
e da mágoa;
dança do sol e do sal;
língua em que escrevo;
ou antes: falo.


ARTE DOS VERSOS

Toda a ciência está aqui,
na maneira como esta mulher
dos arredores de Cantão,
ou dos campos de Alpedrinha,
rega quatro ou cinco leiras
de couves: mão certeira
com a água,
intimidade com a terra,
empenho do coração.
Assim se faz o poema.

Eugénio de Andrade [1923 - 2005]

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