Desde que se começou a falar na construção de um "Centro de Arte Contemporânea" ou Centro de Cultura Contemporânea" e foram avançadas algumas das valências do dito, fiquei de pé atrás e depois de alguma reflexão cheguei à conclusão de que não podia estar de acordo com a sua construção, por várias razões:
1 . É um investimento de tal modo elevado que não faz sentido, porque não é necessário. O futuro virá confirmar o desvario do investimento efectuado.
2. Existem nesta cidade um conjunto de equipamentos culturais, e não só, que estão sub-aproveitados. É claro que alguns deles não são camarários, mas não deixam de ser equipamentos. Não é aceitável que um país com enormes dificuldades desperdice instalações, sejam elas de quem forem. Mais um equipamento para o futuro pode vir a tornar-se um "elefante branco", com despesas de funcionamento e manutenção elevadíssimas.

3. O chamado Centro de Cultura Contemporânea quando visto em projecto parecia ser uma contrução pós-moderna, mas que, de certo modo, se "encaixava" no espaço destinado à sua construção. Agora, verificamos que afinal de contas vai ser um enorme mamarracho que vai destruir algum equilíbrio que havia na zona, escondendo a biblioteca, que se torna invisível, o cine teatro torna-se minúsculo, o quartel de cavalaria evidencia mais claramente o erro clamoroso que foi não o deitarem abaixo, porque está velho, não tem qualidade arquitectónica e a única coisa que poderia ser salva é a porta de armas. Em resumo, em termos arquitectónicos vai ser "soberbo".

4. Já falámos atrás nos custos de construção, que além da construção do dito, implica investimentos nos espaços envolventes, como arruamentos, ajardinamentos, e talvez parques de estacionamento que envolvem algumas centenas de milhar de euros. Às vezes é necessário pensar se as obras que se vão fazer são as mais uteis e necessárias, porque na nossa cidade há muitas possibilidades de o dinheiro ser aplicado em necessidades mais prementes. Porque não um programa de recuperação das habitações da zona histórica com a mesma percentagem de financiamento a fundo perdido?

5. Uma obra desta envergadura não pode nem deve ser realizada para satisfazer vaidades, sejam elas de quem forem. É preciso pensar que, no futuro, impõem-se custos de funcionamento com uma programação adequada e custos de manutenção do próprio edifício. Antes de iniciar a sua construção devia ser já minimamente conhecida que tipo de programação deve ser levada a efeito. Deve ser o edifício a adaptar-se à programação e não o contrário, sob pena de não ser aproveitado devidamente. E instalações sem programação adequada e mesmo sem nenhuma já há aí várias.