06/12/2008

As cores do Outono

O Inverno aproxima-se rapidamente e com ele o frio. O ar começa a parecer translúcido e as cores quentes do Outono a desaparecer. Há no ar como que uma nostalgia do Verão que passou. As lareiras começam a acender-se, as pessoas recolhem-se e há um convite à reflexão. Talvez seja o momento adequado para lermos algumas poesias. Os poemas que apresentamos são de poetas albicastrenses, mesmo de Castelo Branco:












Há folhas vermelhas

Toca o meu rosto com as tuas mãos, rapariga.
No chão duro e frio da casa desconhecida, na
penumbra do quarto. No campo, lá fora,
o cimo dos pinheiros e o céu com estrelas: sombras
e um azul tão denso, metais brilhantes. Aperta
o meu corpo com os teus braços até
que os ossos se firam. Eu rio
contigo, depois procuro a tua
língua húmida entre os dentes,
toco a ternura quente dos teus
seios. É Outono, há folhas vermelhas
nas árvores dos caminhos estreitos. Os
meus dedos percorrem a tua pele
como o meu olhar vai indo
de montanha em montanha, pelas planícies,
até às linhas dolorosas do horizonte.
Toca o meu corpo com os teus dedos, rapariga.
Arranha as minhas costas com as tuas unhas.
Deixa a minha mão e o meu olhar repousadamente
embeberem-se da tua existência.

João Camilo, A Ambição Sublime, 2001

O Outono é sobretudo nostalgia e cor:

















Os dois poemas que
apresentamos a seguir são de João de Sousa Teixeira, amigão e cúmplice de muitas "aventuras"













NUVEM

Tomemos a nuvem como exemplo,
dos opostos que em si encerra:
se é tão débil quando a contemplo,
por que usurpa o Sol à Terra?

Mas se em lágrimas de pranto,
retoma o alvo lençol,
já se lhe vê o encanto,
quando devolve à Terra o Sol.













SOMBRAS

Não há sombras matizadas
de alegria e sofrimento.
Todas elas são pardas,
todas vestem de cinzento.

As sombras são como o vento:
só sabem bem na estiagem.
De resto, varia o lamento,
dependendo da aragem.

Nem sombras, nem sobras - dizia
a minha avó - quero à frente.
As sobras fazem-me azia
e as sombras constrangimento.

João de Sousa Teixeira - Castelo Branco

2 comentários:

Anónimo disse...

Poesias não.Mais debate Este Camilo quem é?

Paco disse...

Para o anónimo, a quem agradeço a sinceridade, eu gosto de poesia e é das formas de escrita mais belas que existem. As questões políticas e de debate são importantes, mas não devemos descurar as questões culturais e mesmo científicas. Proponho-lhe que consulte o endereço geramat.blogs.sapo.pt.
Quanto ao poeta João Camilo é natural de Castelo Branco. Se não estou em erro é actualmente professor numa universidade americana e tem publicados vários livros, entre os quais aquele donde é retirado o poema.
Agradeço a sua participação e espero que continue a dar a sua opinião e sugestôes de temas a tratar.
Paco