11/12/2008

Ver cinema

Desde que me lembro vejo cinema e tenho alguns filmes que são referências importantes e que considero bom cinema.
Vem isto a propósito dos 100 anos de Manuel de Oliveira, cineasta dos maiores, embora eu não aprecie muito os seus filmes, com algumas excepções, como um dos primeiros, o Aniki Bóbó. Parece que está um pouco na moda gostar de Manuel de Oliveira e dos filmes que fez e são muitos. Entre longas e curtas metragens são mais de 50.
Mas eu ainda prefiro outros. Por exemplo "O mundo a seus pés" de Orson Welles, uma história espantosa de poder, queda e solidão.
O famoso "Leopardo" de Visconti, que é também uma história de poder e lucidez, em que o príncipe de Salina, um aristocrata que consegue, no meio da turbulência da reunificação italiana, preservar o essencial do seu modo de vida e da sua família. O seu pensamento e sabedoria estão expressos na célebre frase: é preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma. É um momento da história de Itália em a burguesia assume um papel que a impõe como classe dominante, substituindo a nobreza.
É um momento histórico que prova que a história não tem fim, como já foi afirmado e desmentido por ela própria.

Alain Delon e Claudia Cardinale no filme "O Leopardo"

Ontem à noite estive a rever um filme cujo título é "A escolha de Sofia", drama intenso sobre uma mulher, católica polaca, que nos Estados Unidos relembra e revive o seu passado de prisioneira dos nazis em Awschwitz com os dois filhos e obrigada a escolher um deles para que a criança possa sobreviver, sacrificando a outra. A sua escolha vai persegui-la e conduzi-la-á ao suicídio.
É, de facto, uma história dirigida e interpretada soberbamente por Alan J. Pakula, Meryl Streep e Kevin Kline. A rever sempre.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois a mim, quem me tira ERA UMA VEZ NA AMÉRICA (1984) de S. Leone, tira-me tudo. A interpretação fabulosa de De Niro deixou-me rendido.
Embora haja quem não goste de poesia... ilustro com um poema o que quero dizer:


OS NORTE-AMERICANOS
(Rhapsody para Allen Ginsberg)

Escrevem versos brancos como quem vai à Lua
e vão à Lua cavar poemas ainda mais brancos.
Para o bem e para o mal, conhecem o mundo
até às Caraíbas e jamais o meu vizinho carpinteiro,
de nome Joaquim, que jura ter feito
um guarda-fatos em mogno para um milionário californiano.
De sonetos (incluindo ingleses) nunca ouviram falar;
sabem de sondagens, tácticas militares e de napalm,
de multinacionais e de petróleo.
Não são nunca culpados de coisa alguma:
chatearam-se em Pearl Harbour e vingaram-se em Hiroxima.
O Mayflower não levou todos os bandidos e prostitutas
europeus. Destes, a maioria já é autóctone. E isso vê-se
nas eleições políticas que realizam,
nas guerras que exportam, nas revoluções que inventam
e na leviandade com que dizem my god.

É verdade que há os Óscares, os Nobel
e as medalhas olímpicas, mas a verdadeira história
norte-americana é a de Bufalo Bill.
As fontes não revelam quantos milhões não têm abrigo
e não há notícia de Apaches nem de Cherokees
(eu sei, Allen, de Sacco e Vanzetti também)
mortos em nome do american way of life.
Borrados de medo em Hanoi, não conheceram Jonh Reed,
de quem muito aprenderiam sobre os outros.
Preferiram embebedar-se em Saigão, vomitar
no Mar da China a última ração de combate
e lamber o chão em Woodstock
Ninguém como os norte-americanos
soube dignificar de forma tão eloquente
o nome da sua moeda fiduciária,
dos seus heróis de banda-desenhada
e das suas histéricas lágrimas em Manhattan.

Um abraço!
João de Sousa Teixeira

Stalker disse...

O Era uma vez na América é um filme que me deixou poderosas memórias. Já dei por mim, várias vezes, a ir buscar o dvd e rever uma cena. Por exemplo quando "de Niro" regressa e telefona ao amigo mesmo em frente ao seu bar, ou o L'Alamapola dançado no restaurante alugado só para dois e, muitas vezes, o final, na casa de ópio, no passado, com aquele sorriso extraordinário. É um pedaço de cinema monumental.
O único filme no qual De Niro me parece superar essa representação é no Touro Enraivecido.

Gosto muito, também, do O Leopardo, um belíssimo filme.