12/11/2008

O capitalismo perdeu o norte

Os arautos do capitalismo travestido de economia de mercado andam desnorteados. Agora afirmam que a economia de mercado não é remédio para tudo. Claro que não, não é remédio para nada. Segundo eles, agora o problema é do neoliberalismo, a ganância dos gestores que tornaram o capitalismo selvagem.
Mas o mais interessante é que agora afirmam que o problema é apenas dos americanos, a pátria do capitalismo, como se o modelo americano não fosse o sol que ilumina os émulos da livre iniciativa privada.
O Estado, esse empecilho, quanto menos intervir melhor. Em Portugal, tal como em todo o mundo ocidental a teoria era a mesma. E todos sabemos no que deu. Agora é preciso que o Estado intervenha para os livrar dos apuros que criaram.
A nacionalização do BPN veio mostrar que aqueles que defendem “Menos Estado, Melhor Estado” têm apenas o objectivo de ficarem com as mãos livres para encherem os bolsos, muitas vezes de forma ilegal e sem controlo. É o fartar vilanagem.
Não é aos que vivem do seu trabalho que interessa, porque esses não têm dinheiro para fazer os “investimentos” que quando corriam mal eram assumidos pelo BPN. A nacionalização custou aos bolsos dos contribuintes 700 milhões de euros que foram parar aos bolsos de alguém. Competia ao Banco de Portugal, comandado pelo sr. Victor Constâncio, evitar que isso acontecesse. Mas, pelo vistos esse senhor assobiava para o ar e não “via” o que se passava.
Aqui há alguns dias um amigo perguntava-me “O que é que os defensores do capitalismo/economia de mercado aprenderam com esta crise”?
Ficaram assustados num primeiro momento, mas já recuperaram a arrogância. O que se tem visto são os governos a tomarem medidas para salvarem a base do capitalismo, o poder financeiro, assumindo os prejuízos causados pelos seus “gestores”. A partir daqui aprenderam que têm de ser mais “discretos” na forma como se abotoam com o dinheiro dos depositantes, pequenos investidores e accionistas. Mas a sua natureza não mudou. Vão ter mais cuidado até à próxima crise.
Os pobres, esses apanharam um susto de morte, porque como aconteceu um pouco por esse mundo fora, desde os Estados Unidos passando Islândia, que esteve à beira da bancarrota, França, Inglaterra, Alemanha, Portugal,…viram as suas economias desaparecerem na avalanche que fez tremer o capitalismo mundial. E o que podiam fazer os pobres? Pouco ou nada.
Esta situação fez-me lembrar uma história que um amigo bancário me contou há alguns anos: uma senhora, já bastante entrada em anos, tinha depositadas num banco as suas economias de uma vida que se limitavam a ser algumas dezenas de contos. Um dia, veio da aldeia onde vivia e dirigiu-se ao banco. Aproximou-se do balcão, com um ar humilde e discreto à espera que alguém a atendesse. O meu amigo, uma pessoa com sensibilidade e conhecedora das dificuldades dirigiu-se à senhora e perguntou-lhe o que desejava. A senhora queria apenas ver o seu dinheiro, não o queria levar. O meu amigo ficou surpreendido pelo estranho pedido e perguntou-lhe como iria ela saber qual era o dinheiro dela. A resposta veio pronta. As notas eram de mil escudos e ela tinha-lhes feito um buraquinho na ponta com um alfinete. O meu amigo resolveu imediatamente a questão: pediu um alfinete a uma colega, foi ao cofre, recolheu em notas de mil a quantia que a senhora tinha depositada, fez um buraco na ponta em cada uma e dirigiu-se ao balcão apresentando as notas à senhora. Esta pegou nas notas, procurou o buraco e disse “São estas mesmo”. Com um sorriso nos lábios saiu do banco e foi à sua vida. O seu dinheiro estava bem guardado. É para isto que os bancos devem servir.

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