Que a pátria lhes seja leve
Comoveu-me a notícia da opção cão d’ água português da família Obama. Mais: envaidece-me saber que o próximo futuro luso-americano ocupará um cargo na administração norte-americana, ao mais alto nível. Agora tinha o som perfeitamente regulado para não restar qualquer dúvida. Depois do famoso homem que mordeu o cão, outro bicho notável ocupa as páginas dos jornais, com a globalizante diferença daquele ladrar em inglês.
Ora se eu humano cidadão rejubilo com tal possibilidade, imagine-se o orgulho da comunidade canina portuguesa, a par dos nossos governantes, que assim conseguem uma inesperada e simultânea lança em África e na América.
Porém, isto de exportar o nosso melhor – seja para o coração da Europa, seja para os EUA – tem também os seus inconvenientes. Não, não é a minha alma de Velho do Restelo ressuscitada. É preocupação séria, juro. É que uma coisa é exportar cortiça, calçado ou mesmo vinho do porto, rapidamente consumidos; outra bem diferente é a exportação da nossa criação viva e perene.
Logo após ter surgido a possibilidade de ser português o cão escolhido pelo D. Sebastião (versão de lá para cá) norte-americano, os preparativos, levados a rigor, tiveram lugar no Algarve, com o escrupuloso acasalamento da cadela, freelancer à força, e agora seguida com enormes cuidados e expectativas. Oxalá tudo corra como é esperado, a bem da nação, do prestígio de Portugal no mundo, da cooperação internacional, do desenvolvimento económico e consequente saída da crise capitalista, assim designada, mas que lixa sobretudo os que para ela em nada contribuíram.
Agora, todos vão estar de olho no candidato. O seu desempenho e porte passarão a ter conta peso e medida, já que a escolha foi tão inesperada para ele como para todos nós. Não serão de acalentar esperanças quando ao nome, uma vez que estarão fora de qualquer hipótese os vulgares bobi ou pantufa e, muito menos os despropositados nero ou tarzam, que por muito prazenteiros que sejam por cá, não terão com certeza o mesmo sentido para o resto do mundo.
Convirá não aportuguesar muito a coisa. Não é seguro que o que é bom para os portugueses seja bom para o resto do mundo. Certo, certo, é que um cabelinho aparado fica sempre bem. A imagem conta muito.
A possibilidade de arejar além fronteiras não deixa de ser aliciante. Espairecer e aumentar o pecúlio não são coisas para desprezar, homessa!
A pátria canta amanhãs de esperança, o que é válido para o cão d’água, é-o também para o candidato socialista.
João de Sousa Teixeira
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