01/03/2009

Encontro Nacional do PCP

Estive para escrever sobre o congresso do PS, mas como toda a gente fala e, além disso, o que lá foi dito é mais do mesmo: é a "campanha negra" a propósito do Freeport e de todas as vezes que o nome de Sócrates aparece envolvido em situações "invulgares" (e são muitas); mas também é nós (eles, os do PS) somos os melhores (está à vista).

De modo que indo contra a opinião do "rebanho" decidi escrever sobre o Encontro Nacional do PCP sobre as Eleições 2009, realizado ontem, 28 de Fevereiro, em Almada, na Academia Almadense.

Eu estive lá: vi, li e ouvi muitas intervenções sobre a situação política, económica e social portuguesa, de norte a sul do país. Neste Encontro falou-se de coisas sérias e da resolução dos problemas do povo e do país. Apresentaram-se soluções e propostas para os problemas do país. Não se fez show, porque lá trataram-se coisas com seriedade.










A seguir apresentam-se alguns extractos de duas intervenções:

"(...)Mais de trinta anos de política de direita que fizeram de Portugal um país mais dependente, mais endividado, mais deficitário, mais vulnerável, mais injusto e desigual.
Política q
ue é a grande responsável pela estagnação económica crónica do país, pelos elevados níveis de desemprego, de precariedade, do aumento da exploração e do declínio dos rendimentos do trabalho, das desigualdades e assimetrias regionais, da ruína de milhares de micro, pequenos e médios empresários e pela escandalosa e obscena concentração da riqueza nas mãos de uma minoria de priveligiados e uns tantos especuladores.
Política de direita que nos últimos quatro anos de governo do PS assumiu uma nova amplitude e
intensidade que agravou ainda mais os problemas do país e as condições de vida dos trabalhadores e do povo com a sua política de liquidação de direitos e conquistas sociais na saúde, no ensino, na segurança social.
Quatro anos de governo do PS que fizeram recuar para um patamar ainda mais baixo a resposta aos três problemas centrais do país e que uma verdadeira política de defesa do interesse nacional e dos portugueses deveria assumir: o défice de produção, o desemprego e a injusta distribuição do rendimento nacional.
Aqueles que têm governado o país, perante a gravidade da crise tudo fizeram para esconder e mistificar as verdadeiras causas que estão na origem da grave situação que o país enfrenta.
PSD e CDS q
uerem convencer os portugueses que os problemas começaram há três anos atrás e que os portugueses viviam no melhor dos mundos com Barroso e com Santana e a assistência de Paulo Portas.
O PS quer convencer os portugueses que a situação a que chegou
o país não é da sua responsabilidade.
Nem do actual governo, nem dos seus governos anteriores.
A crise do capitalismo passou a servir de desculpa para tudo a José Sócrates e ao PS, incluindo para a situação de estagnação crónica em que o país vive e para as desastrosas consequências dos seus quatro anos de governação que culminam na recessão que assola o país.
Uns e outros o que querem é que tudo fique na mesma, girando apenas a roda da alternância sem política alternativa. Andam por aí a esgrimir públicas diferenças, mas é preciso uma lupa para descobrir o que os possa diferenciar. Na verdade se há coisa que não muda em Portugal é o núcleo central das políticas que estruturam opções da acção governativa dos últimos anos e que passam de governo em governo, do PSD para o PS, do PS para o PSD, com ou sem CDS. Pode José Sócrates anunciar que o PS é a força da
mudança, mas a realidade nua e rua mostra que não há grelha de soluções políticas mais conservadora e mais imobilista que a matriz de soluções esteriotipadas da política de direita que invariavelmente aplicam em todas as circunstâncias e em todas as conjunturas, com a única excepção da sua utilização "soft" em anos eleitorais.(...)"

Da intervenção de Jerónimo de Sousa no Encontro Nacional do PCP

"(...)1. Se
há coisa certa relativamente às 3 eleições de 2009, é que no centro dos processos eleitorais vai estar a crise do sistema capitalista, a crise do capitalismo português. Certo e seguro, no c entro do intenso debate político e ideológico que se vai travar, que as eleições sempre representam, teremos desta vez, naturalmente mais nas eleições para o PE, mais para a AR, os problemas do país e do mundo, as análises, as causas e as respostas à brutal devastação, à catástrofe económica e social, que o capitalismo (e o imperialismo) conduziram os países e todo o planeta, os trabalhadores e os povos.
Com toda a força e valor da nossa reflexão, dos nossos argumentos, das nossas propostas, precisamos de fazer da CRISE uma arma de arremesso eleitoral contra o governo PS. Uma arma de condenação eleitoral da política de direita, prosseguida por PS, PSD e CDS-PP ao longo dos 33 anos que levamos de democracia, pós Abril.
Uma arma de desmascaramento da falsa alternativa política aos governos do PSD/CDS-PP, que representou a maioria absoluta do PS, obtida em 2005! Como a actual situação económica e social de Portugal e dos portugueses demonstra de forma indesmentível.
2. No centro da nossa intervenção eleitoral vão ter que estar a denúncia e o esclarecimento das falsas causas que PS, PSD e CDS-PP avançam com origem das causas. Vão ter que estar a denúncia e o esclarecimento das pretensas respostas para a crise. A denúncia e o esclarecimento das manobras de diversão, os esquecimentos oportunos das suas responsabilidades políticas, das encenações de ilusionismo ideológico reaccionário com que vão procurar, mais uma vez enganar, iludir grossas fatias do eleitorado.
Dizendo com já hoje dizem, que a crise é uma coisa que veio da América, mas que nada tem a ver com as políticas da União Europeia, nada a ver, nenhuma semelhança com as políticas de Guterres e Sócrates, de Santana e Portas, de Durão e Cavaco. Crise vinda de fora, pondo em causa os êxitos e sucessos da política do Governo e da maioria PS vinha conseguindo até ao 3º trimestre de 2008!
Dizendo, como já hoje dizem, que a crise é um fenómeno normal, natural. Tão natural como na natureza haver inundações e tremores de terra. E que sendo normal, natural, nada tem a ver com o sistema de exploração que é o capaitalismo, nada a ver com as opções políticas dos partidos e dos governos a favor dos ricos e poderosos. E sendo natural, nada mais nos restaria, se não conformarmo-nos!
Dizendo, como já dizem, que a crise é o resultado de uns banqueiros ganaciosos, alguns corruptos, da falta de ética nos negócios, de falhas da regulação e supervisão do sistema financeiro, que, aliás para alguns como Sócrates, só aconteceu nos EUA, dizendo isto com toda a desfaçatez, quando tem água até ao pescoço dos processos do BCP, BPN, BPP e etc!
É evidente que poderíamos perguntar a esses teóricos da regulação, aos catedráticos do capitalismo ético, como é meia dúzia de banqueiros, essas falhas de regulação (que aliás já tinham sido detectadas aquando dos escândalos da ENROM, WORDCOM, VIVENDI e outros), foram capazes de produzir num país tão poderoso, tão rico, tão inovador, tão avançado tecnologicamente e com elevadas produtividades, como os EUA, pode atingir o nº extraordinário de 12,3% de défice orçamental! (Valor que só por si, deveria fazer emudecer eternamente, os nossos e europeus defensores do Pacto de Estabilidade, os discípulos da obsessão orçamental!).
Dizendo como já hoje dizem, que a crise e os problemas do país, o desemprego, os baixos salários, a falência de milhares de pequenas empresas, é o resultado de vivermos acima das nossas posses, de cada português gastar mais do que ganha. E assim individualizando as responsabilidades e iludindo as descomunais desigualdades sociais no País, desigualdades de rendimentos, de consumos, de patrimónios! Nós todos gastaríamos, consumiríamos demais, mesmo os 20% de portugueses abaixo do limiar de pobreza. E assim, as responsabilidades dos problemas do País não são de 33 anos de políticas de direita, do Governo PS/Sócrates. Não, a culpa é minha, é tua, é nossa. É tua, que tendo um salário insuficiente, te endividaste para comprar uma casa para a tua família, para que os teus filhos frequentem a universidade, para comprar o carro com que te deslocas diariamente para o trabalho. Assim se iliba o capitalismo e um dos seus espúrios produtos, o consumismo. Assim se absolve a política de direita. Assim se passa uma esponja sobre as políticas do Governo PS/Sócrates.(...)"

Intervenção de Agostinho Lopes no Encontro do PCP

1 comentário:

Manuel da Mata disse...

Boa noite, amigo!
Agora passo com alguma regularidade por aqui. Força!
Abraço,
Manuel